Quem está familiarizado com o meu trabalho sabe que gosto de fotografar natureza com teleobjectivas. Na realidade, a minha excelente XF14mm raramente sai de casa e das 3857 fotografias captadas até agora em 2020, apenas 171 (4,4%) foram realizadas abaixo dos 35mm (52,5mm no equivalente FF). Pode parecer um contra-senso para um fotógrafo de paisagem natural, mas a realidade é que não consigo sair de casa sem a XF100-400 ou a XF50-140.

Daqui a sensivelmente um mês vou voltar aos Picos de Europa. Os ambientes de montanha são perfeitos para fotografar paisagem e vida selvagem com teleobjectivas e, por essa razão, vou sair de casa com a minha XF100-400 à qual vou juntar um (ou os dois) dos excelentes teleconversores disponibilizados pela Fujifilm: o 1.4x e o 2x.

Os teleconversores permitem aumentar a distância focal oferecida pela objetivas. Ao contrário dos tubos de extensão, estes acessórios incluem elementos ópticos e é fundamental que tenham uma elevada qualidade para não deteriorarem a performance das objetivas onde vão ser usados. Infelizmente, uma perda de qualidade deve ser quase sempre esperada quando se usa este tipo de complementos, a juntar ao facto de, cada um destes teleconversores, ter um impacto na abertura máxima que permitem, reduzindo em 1 e 2 stops respetivamente a abertura minima nativa de cada uma das objetivas onde é usado. Outro fator a ter em conta, diretamente relacionado com esta perda de abertura máxima, é a capacidade de auto-foco. É que focar a f/2.8 não é o mesmo que focar a f/5.6, já para não falar a f/11.

Por tudo isto, resolvi fazer algo que estava na minha lista já há uns meses: testar ambos os teleconversores com as minhas teleobjetivas de eleição: a XF50-140 e a XF100-400. Um amigo emprestou-me o teleconversor 2x e ao lado do meu 1.4x vamos ver como se comportam em fotografia de paisagem.

Qualidade de Construção

À semelhança da maior parte das objectivas da gama X, também este teleconversores têm uma excelente qualidade de construção. Ambos são resistentes ao pó e à agua e construídos em metal, com uma aparência que iguala as objetivas para as quais foram pensados.

O teleconversor de 2x, com os seus 9 elementos em 5 grupos óticos, adiciona 30,2mm à objetiva onde for usado e reduz a abertura máxima em 2 stops. Já o de 1.4x – com os seus 7 elementos óticos e 3 grupos – reduz apenas 1 stop e adiciona 15mm à objetiva onde for usado. Em termos de peso são insignificantes, 170g e 130g respetivamente.

Ambas as objetivas necessitam do último firmware para operar com estes teleconversores de modo a que os valores de abertura e distância focal possam ser gravados corretamente no EXIF e mostrados corretamente no ecrã da câmara. O estabilizador das objetivas (e da câmara) funciona corretamente quando os teleconversores estão a ser usados.

Utilização em Paisagem

O meu objetivo era testar ambos os teleconversores em fotografia de paisagem. Para isso resolvi colocar a câmara (neste caso a X-H1) no tripé e usar uma abertura de f/8, valor que uso mais frequentemente em paisagem com teleobjetiva. Foi usado o temporizador para garantir o menor movimento possível na altura do disparo. Como precisava de uma local onde houvessem muitas linhas e muito detalhe resolvi ir até à estação ferroviária do Entroncamento.

Em primeiro lugar, aqui ficam duas imagens realizadas com a XF50-140 e a XF10-400 para verem o nível de detalhe nativo. Ambas as objetivas são donas de um detalhe e de um recorte impressionante. Em especial a XF50-140 deixa-me sempre impressionado com o detalhe que consegue retirar de qualquer cena fotografada. Ambos os ficheiros são JPGs diretamente da câmara com o perfil Provia/Standard e sem ajuste nos outros parâmetros (Cor, Definição, Contraste, etc).

Fujifilm X-H1, XF100-400mmF4.5-5.6 R LM OIS WR. 1/100s, f/8, ISO 200. Descarregue a imagem em alta resolução aqui.

Fujifilm X-H1, XF50-140mmF2.8 R LM OIS WR. 1/400s, f/8, ISO 400. Descarregue a imagem em alta resolução aqui.

XF100-400

Em primeiro lugar decidi testar a objetiva que mais uso com os diferentes adaptadores, nas distâncias focais de 100 e 400mm, sempre a f/8 ou superior quando o teleconversor não permitia f/8.

Para terem uma ideia do nível de aproximação que os teleconversores permitem neste tipo de objetiva, aqui ficam 3 imagens a 400mm. Com o 1.4x chegamos aos 560mm (equivalente a 840mm no formato FF) e com o 2x chegamos aos 800mm (equivalente a 1200mm no formato FF). Wow!

Em termos de qualidade de imagem, os testes mostraram que ambos os teleconversores se comportam muito bem quando a objetiva está a 100mm, com uma nível de detalhe e resolução muito boas, com uma vantagem ligeira para o 1.4x. Nesta distância focal, o nível de detalhe é fantástico em toda a imagem, deste o centro até aos cantos da imagem.

A 400mm, nota-se que o 2x não consegue evitar a perda de resolução causada pela defração. Em especial, as zonas fora de foco ficam um pouco estranhas com a falta de resolução. Embora as imagens sejam perfeitamente utilizáveis, a perda de definição é notória. É o preço a pagar pelos 1200mm de distância focal em termos de full-frame. A abertura mínima desce também para f/11. No que diz respeito ao 1.4x, que nos dá uma distância equivalente de 840mm no formato FF, a qualidade é ligeiramente superior ao 2x. Eu diria já bastante aceitável, com um recorte excelente e uma definição muito boa. Existe alguma defração, mas quase imperceptível e incapaz de fazer com que a perda de resolução seja impossível de corrigir na edição.

XF50-140

Com a fabulosa XF50-140, com uma abertura máxima e constante de f/2.8, não temos variação de abertura para lá dos f/5.6 e conseguimos efetuar todas as capturas a f/8 conforme era o meu desejo. De notar que, ao contrário da 100-400 onde as aberturas máximas com o teleconversor 2x passam para f/8 a 100mm e f/9 a 400, nesta objetiva mantêm-se sempre nos f/5.6.

Ambos os teleconversores produzem resultados excelentes quando acoplados a esta objetiva. A 50mm, ambos os acessórios produzem imagens perfeitas, com uma resolução e recorte perfeitos. Com o 1.4x (a 70mm) não se nota diferença nenhuma e com o 2x (100mm) a perda de qualidade é imperceptível. Não coloco aqui nenhuma imagem (vão ter de acreditar em mim) pelo simples facto de não valer a pena fotografar quer a 70mm, quer a 100mm usando os teleconversores quando a objetiva consegue fazer essas distâncias focais de forma nativa.

Quando usados na ponta mais distante da distância focal (nos 140mm) ambos os teleconversores produzem imagens excepcionais. O 1.4x continua a parecer nativo da objectiva, sem qualquer perda de qualidade visível, enquanto o 2x continua a produzir imagens limpas, com detalhe e com o recorte que esta objetiva nos oferece normalmente. A existir uma perca de qualidade, devido à defração, é mínima a esta abertura.

Auto-foco

Para além deste teste, resolvi fazer um pequeno teste, nada exaustivo (até porque me faltavam os sujeitos) ao sistema de auto-foco quando acoplado com estes teleconversores. Sempre na abertura máxima que as objetivas permitiam.

Não tenho grandes imagens para mostrar, mas experimentei usar o modo de foco continuo (AF-C) da minha nova X-T4 para seguir aves em voo. A X-T4 tem um sistema de foco mais avançado que a X-H1 que luta um pouco para produzir bons resultados quando utilizo o teleconversor na 100-400.

Das minhas experiências, o teleconversor 2x pode ser usado com sucesso na 50-140 – que continua a permitir deteção por fase – mas não na 100-400 que limita o sistema de auto-foco a deteção por contraste. Na 50-140 o sistema de auto-foco continua a seguir bem os sujeitos e o rácio de fotografias bem focadas é bastante aceitável (superior a 80%). Com a 100-400 não consegui mais do que 15% de fotografias focadas e nota-se que o sistema luta bastante para permanecer no foco, quando o consegue.

Com o teleconversor 1.4x ambas as objetivas funcionam perfeitamente no que diz respeito ao sistema de auto-foco que continua a ser rápido e preciso.

Em Resumo

O seguinte quadro resume um pouco a minha experiência com os teleconversores. Lembrem-se que o objetivo deste teste, no terreno, é atestar o seu uso em paisagem, onde muitas vezes se fotografa com aberturas fechadas entre f/8 e f/16, tripé e sujeitos imóveis.

Daqui a um mês, nos Picos da Europa, vou decididamente levar comigo a 100-400 e o teleconversor 1.4x, permitindo-me chegar com a qualidade que pretendo aos 840mm de distância focal equivalente full-frame. Nada mau para uma pequena ótica que pesa 130g.

Espero que este teste tenha sido útil para quem está a pensar comprar um teleconversor. Para quem possui a XF50-140 pode equacionar qualquer um dos teleconversores, com a única ressalva que o 2x poderá sofrer de algumas limitações no sistema de AF. Para os que usam a 100-400, o 2x deve ser evitado para quem procura seguir objetos em movimento. Quanto à qualidade, a utilização do 2x na XF50-140 está ao nível da utilização do 1.4x na 100-400.

É decididamente um acessório a ter na mochila de qualquer fotógrafo de natureza, em especial se fotografa paisagem. E de desporto, claro está, se bem que, para esses, há a convidativa XF200mm f/2 que traz consigo uma versão especial (F2) do teleconversor 1.4x, permitindo fotografar com uma 420mm f/2.8 se atendermos à distância focal equivalente no formato full-frame.

Crédito das imagens: Fujifilm (Imagem de capa com o teleconversor 1.4x). As restantes imagens foram captadas por mim usando tripé e o temporizador da X-H1. A edição foi feita na câmara, pois são JPGs com o perfil Provia/Standard e sem ajuste nos outros parâmetros (Cor, Definição, Contraste, etc).