Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

Panasonic Lumix GF2

Banco de Testes: Panasonic Lumix GF2


Artigo originalmente publicado por mim no site da fotonature, um projecto de que faço parte e que promove workshops de fotografia em Portugal.

Mirrorless Interchangeable-Lens Camera

Na fotonature, sempre prontos a inovar e a abraçar com renovada paixão novos públicos, decidimos introduzir no calendário deste ano uma série de novos workshops que têm tido uma recepção muito especial por parte dos nossos participantes. Falamos, como certamente já adivinharam, dos workshops de fotografia de rua e viagens. Nessas sessões, o equipamento usado vai desde a mais compacta das câmaras às dSLRs mais avançadas, usadas inclusive pelos formadores da fotonature.

A este respeito, temos também sido confrontados com várias questões acerca de qual a câmara mais adequada a estes estilos de fotografia. E se uma dSLR permite desfrutar na plenitude da nossa gama de workshops, também é certo que na rua e em viagem, o peso do equipamento que se transporta e o próprio facto de uma dSLR ser tudo menos uma ferramenta que permite ao fotografo passar despercebido – como muitas vezes se pretende na fotografia de rua -, faz-nos pensar em alternativas que continuem a permitir o controlo total da fotografia que pretendemos fazer.

Foi a pensar neste “gap” que se encontra entre as compactas de sensor pequeno e na sua maioria de controlo manual extremamente limitado e as dSLRs de “grandes” dimensões e de grande qualidade que há um par de anos, pelas mãos da Panasonic e Olympus, surgiu o conceito Mirrorless Interchangeable-Lens Camera (MILC) que é como quem diz na língua de Camões, câmaras sem espelho que permitem a troca de objectivas.

Comparação de tamanhos de sensor. O micro 4/3 mede mais do dobro da compacta S95 da Canon. É fácil adivinhar que terá uma qualidade em ISOs altos muito superior.

Estas câmaras, de formato bastante reduzido, assemelham-se às compactas no seu tamanho, mas aproximam-se mais das dSLRs no que diz respeito às funcionalidades que oferecem e à qualidade de imagem que permitem alcançar. Equipadas com sensores consideravelmente maiores do que as compactas existentes no mercado, permitem ainda a utilização de um variado leque de lentes de qualidade, incluindo o acesso a ópticas de várias marcas através do uso de adaptadores. Se tem antigas lentes Leica manuais lá por casa a ganhar pó, talvez tenha chegado a altura que as ir buscar ao sótão e de as trazer consigo para a rua ou partir com elas na próxima viagem.

Para responder então à questão principal que nos têm posto – “Quero substituir a minha compacta, mas não quero andar com uma dSLR e uma mochila carregada de equipamento. O que comprar?” – decidimos levar para o terrenos duas destas pequenas e testar in loco se realmente estarão prontas para o desafio de um workshop fotonature e, mais importante que isso, se nas mãos dos nossos participantes na rua ou numa viagem conseguem obter resultados de qualidade sem o peso e o cariz de uma dSLR.

Panasonic Lumix GF2

Panasonic Lumix GF2 Kit (Lente 14mm f/2.5)

Design e Manuseamento

A primeira máquina que testamos foi a Panasonic Lumix GF2. Sendo a menos volumosa das duas, é por certo também a mais bonita em termos de design, com o seu corpo branco em metal. Deixando de lado as características técnicas que poderá consultar em detalhe no site do fabricante, queríamos partilhar convosco as nossas notas da utilização prática que dela fizemos durante o tempo a que esteve ao nosso encargo.

Equipada com uma lente estilo panqueca de 14mm (equivalente a uma 28mm no formato full-frame) com uma abertura constante de f2.5, não há dúvida que ganha aos pontos em relação a qualquer dSLR (e mesmo a muitas compactas avançadas) em termos do seu tamanho. Esta combinação, bastante equilibrada, não compromete em termos de manuseamento e podemos afirmar sem reservas que a máquina se “senta” confortavelmente nas nossas mãos, com o seu design a permitir uma boa adaptação ao polegar quando agarrada apenas com uma das mãos. Já quando equipada com a zoom 14-42mm o caso muda um pouco de figura, uma vez que o equilíbrio já não é tão grande (embora continue com uma pega e utilização fáceis).

Panasonic Lumix GF2 com lente 14mm vista de cima

Esta câmara não possui ocular de série – disponível como acessório – e apenas é possível compor a imagem através do seu LCD de grandes dimensões. Não somos grandes fãs de olhar por um LCD para fazer fotografia, mas após um período de habituação os resultados começam a sair e a rotina implanta-se. O LCD porta-se bem na maioria das condições de luz e nunca tivemos problemas com a visualização da realidade que pretendíamos captar. Em termos da regulação das várias componentes da exposição, esta máquina oferece-nos de novo algo a que não estamos habituados: um ecrã sensível ao toque onde todos os parâmetros e menus podem ser percorridos e selecionados através de toque. Se isto ao princípio pode parecer estranho, adoramos o facto de se poder, por exemplo, selecionar o ponto de focagem com um simples toque no LCD. Se tudo fosse assim tão fácil nas nossas dSLRs… Um senão de tudo isto é que, de quando em vez, dávamos por nós a tocar no LCD sem querer, o que por vezes se pode tornar incómodo.

As opções de menu são vastas e bastante completas, sendo que o leque de funcionalidades disponíveis muda de acordo com o modo fotográfico que se está a usar. Fazemos questão de ressalvar este ponto porque tivemos alguma dificuldade em, sem consultar o manual, perceber como se formatava o cartão aquando da primeira utilização. No modo completamente automático essa opção estava escondida das opções de menu, sendo necessário escolher um modo criativo (P, A, S ou M) para que a opção fosse encontrada. Das opções mais interessantes e que nunca tínhamos visto nas Canon dSLR que habitualmente utilizamos listamos as seguintes:

  • Tamanho do ponto de focagem completamente configurável;
  • Pixel refresh: verifica se existem pixéis com problema no sensor da câmara;
  • Travel date: permite definir a localização e a data de uma viagem;
  • World time: permite definir a hora local e a de um destino em viagem;
  • 3D playback: permite emitir imagens em 3D ou 2D para uma TV;
  • Title edit: permite atribuir títulos às imagens;
  • Defocus control: excelente opção que permite selecionar o nosso sujeito e controlar o grau de suavidade de tudo o resto e/ou clarear e escurecer a foto usando compensação da exposição. Tudo isto através do ecrã táctil.

Para finalizar esta componente de manuseamento da pequena GF2 não podíamos deixar de referir a funcionalidade associada ao Quick-Menu que permite a personalização de um menu para ser usado por utilizadores mais avançados e que permite um fácil e rápido acesso às funções usadas mais frequentemente.

Fazendo a Fotografia

Depois de nos ambientarmos com as várias opções oferecidas pela GF2 chega a altura de a levarmos para o terreno e fazermos algumas fotografias. A pequena Lumix, através do seu ecrã táctil permite a seleção de vários modos de exposição, desde os que controlam automaticamente todos os parâmetros de abertura, velocidade e ISO (iA, Cenários, Cores e Customizado) até aos modos criativos que permitem expor manualmente (M) ou com prioridade à abertura (A) ou à velocidade de obturação (S). O modo P permite controlar alguns parâmetros ao mesmo tempo que regula de forma automática a exposição. Estes modos são semelhantes aos disponíveis nas dSLRs mais comuns no mercado. De notar que a GF2 apenas tem um botão físico que permite a utilização do modo iA (auto inteligente), onde a câmara controla de forma automática uma série de parâmetros e que permite a qualquer iniciado tirar boas fotos sem ter que regular qualquer definição. Os restantes modos só são possíveis de definir através do LCD. Por debaixo deste botão e no local onde assenta o polegar está uma roda que permite a regulação da abertura, velocidade e ISO (bem como a navegação nos menus) e que tem a excelente particularidade de ser clicável para, por exemplo, alternar entre a seleção da abertura e da velocidade quando no modo Manual. Uma excelente opção, pois permite, com apenas um botão, controlar ambos os parâmetros de forma simples.

Em termos de tempos de resposta, a pequena Lumix é excelente. Responde rapidamente a qualquer alteração de parâmetros e é muito rápida a focar e a ler a exposição. Com qualquer das lentes utilizadas, a obtenção do ponto de focus foi extremamente rápido e preciso, o que reduz em muito o tempo de captura de uma foto em situações reais no terreno. Em termos da velocidade de captura, notamos que a utilização de um cartão com uma velocidade de escrita elevada é fundamental, em especial se usarmos (como foi o caso) o modo de gravação RAW+JPG.

No que diz respeito aos modos de medição de luz estão disponíveis três: matricial, ponderado ao centro e pontual. Nos nossos testes usamos os dois primeiros com resultados bastante positivos, sendo que na maior parte das situações de luz a máquina expôs bem as imagens. Em situações de luz contrastantes portou-se como esperado, expondo para as sombras ou para as altas-luzes dependendo da zona da cena onde a leitura foi feita. A câmara dispõe da opção de mostrar as zonas queimadas da imagem através de uma zona que pisca por forma a percebermos logo após a fazermos as fotos que zonas estão estoiradas.

Qualidade de Imagem

Para atestar a qualidade de imagem do sensor da GF2 e do processamento de imagem introduzido pela Panasonic nesta câmara decidimos deixar de lado as palavras e ilustrar tudo com imagens.

Comportamento em ISOs elevados

ISO 400

ISO 800

ISO 1600

ISO 3200

Comparação de ISOs. Crop a 100%

Como podemos comprovar pelas imagens acima apresentadas, o sensor da Lumix tem um excelente comportamento em ISOs elevados, fazendo inclusive inveja a muitas dSLRs de renome. O leque começa num imaculado ISO 100 (aqui não apresentado) e podemos afirmar que é utilizável sem comprometer até 1600. A 3200 já se nota ruído, mas na nossa opinião é perfeita utilizável quando uma situação no terreno assim o exige.

RAW vs JPG

JPG processado na câmara em modo automático ‘Arquitectura’

RAW editado em Lightroom (White Balance, Saturação e Luminosidade)

A diferença, não sendo enorme, é bem notória. As imagens em JPG processadas pela câmara são pouco vibrantes. A versão abaixo mostra o que se pode conseguir com ligeiros ajustes num editor de RAW.

Qualidade nas Sombras

Centro Comercial Amoreiras ao Por do Sol. RAW editado em Lightroom. ISO100, 28mm, f/11, 1/10s

Qualidade de imagem nas sombras. O ruído a ISO 100 é inexistente.

Em termos de ruído nas baixas luzes, o sensor da Lumix porta-se lindamente numa imagem sempre difícil tirada ao por do sol. O detalhe é intenso e as zonas sombrias da imagem são limpas a ISO 100.

Balanço de Brancos: Automático (JPG) vs Manual (RAW)

Balanço de Brancos Automáticos (JPG)

Balanço de Brancos Manual (RAW)

No que diz respeito ao balanço de brancos, os resultados no JPG processado pela câmara nem sempre são os melhores e isso foi notado em diversas situações e também nas imagens acima que mostram uma predominância do azul.

Definição e Nitidez (JPG vs RAW)

JPG em modo de exposição manual. Lente 14-42 (f/3.5 a 1/60s)

RAW em modo de exposição manual. Lente 14-42 (f/3.5 a 1/60s). Smart Sharpen no CS5 (Radius 0.3, Amount 500)

Mais uma vez os resultados quando editados a partir do RAW surpreendem. Embora a nitidez no jpg não seja má, a qualidade que se consegue quando trabalhada a partir do ficheiro RAW é bastante superior.

Conclusão

A Favor:

  • Excelente design num corpo em metal leve e pequeno com uma excelente qualidade de construção;
  • Fácil utilização no que diz respeito à utilização dos menus e controlo da exposição, tanto para iniciados como para fotógrafos avançados;
  • Boa implementação do ecrã táctil, em especial na seleção do ponto de focus e do tamanho do mesmo;
  • Possibilidade de customizar o quick-menu com as opções mais utilizadas;
  • Operação rápida e precisa, tanto do motor de auto-focus como da aquisição e leitura da exposição;
  • Qualidade das imagens em RAW, mesmo em ISOs elevados;

Contra:

  • Resultados em JPG não tão vibrantes como o esperado. É preciso recorrer ao RAW para desfrutar de todo o potencial que a GF2 oferece;
  • O equilíbrio de cores automático (JPG) não é 100% correto: predominância de azuis e verdes em algumas situações em que isso não era esperado;
  • Ciclo de disparo lento quando usados cartões standard e formato RAW;
  • Não suporta controlos remotos;

Resumo:

De modo geral ficamos bastante surpreendidos – pela positiva – com as capacidades que esta pequena câmara oferece. É muito fácil de usar e os resultados em termos de qualidade de imagem não ficam atrás de qualquer dSLR que compete no mercado ao mesmo preço (PVPR €649). Para um fotógrafo avançado, permite o completo controlo da exposição tal como estamos habituados a fazer nos nossos workshops e a câmara comporta-se de forma previsível e precisa. Para o iniciado possibilita bons resultados utilizando o modo inteligente da câmara se bem que para tirar o máximo partido do que a Lumix tem para oferecer é preciso selecionar o modo RAW e editar as fotos posteriormente. Para os aficionados dos botões físicos que controlam de forma direta os aspectos mais importantes da exposição esta pode não ser a mais perfeita das câmaras, mas a implementação da Panasonic do ecrã táctil é muito boa, o que vai certamente fazer as delícias de quem está mais habituado a esta nova forma de interagir com os pequenos gadgets dos nossos tempos.

Como é óbvio, não vamos deixar de usar as nossas Canon EOS 5D para passar a levar connosco para todo o lado uma MILC, mas para quem procura uma câmara que permita controlar todo o processo criativo de fazer uma fotografia esta é sem dúvida uma opção a considerar. Eu pessoalmente, estou a pensar seriamente em adquirir usar em fotografia de rua, deixando a dSLR apenas para o trabalho de paisagem.

Se é daquelas pessoas que quer substituir a sua pequena compacta que não lhe permite controlar quase nada e não consegue fazer uma foto decente quando sobe o ISO para 400, então a sua pesquisa pode bem ter terminado após a leitura deste artigo. Desde a introdução destas câmaras pela Panasonic há um par de anos que a hegemonia do duo maravilha Canon/Nikon tem os dias mais complicados e prevejo, sem reservas, que a produção de compactas de sensor pequeno acabe em breve.

No próximo artigo apresentaremos a Panasonic G2, uma outra oferta da marca para o mesmo segmento de mercado e que também testamos conjuntamente com a GF2. Aproveitamos para agradecer à equipa de comunicação da Panasonic Portugal a simpatia e disponibilidade que demonstrou para nos emprestar os equipamentos para teste. Uma excelente atitude que deveria ser seguida por outras marcas… Um obrigado muito especial à Sara por toda a gentileza.

E como sempre, esperamos também os vossos comentários. Se tem algo a dizer sobre o que foi escrito aqui, não hesite em deixar-nos umas palavras.

Nota: Esta câmara também faz video de grande qualidade em Full HD (incluindo 3D). Deixamos propositadamente de fora as características de vídeo da máquina, pois não era nosso interesse testar essas capacidades.

4 Comentários

  •    Responder

    Agradeço o artigo. Acabo de comprar uma GF2 e confirmo tudo que aqui foi escrito.

  •    Responder
    Marcio Chicca Maio 6, 2014 at 11:32 pm

    Possuo uma GF2 ha algum tempo e estou muito satisfeito como desempenho dela.
    Tenho a lente original 14mm e uma pancake 14-42 3.5 que também é fantástica, ambas para fotos e videos são muito boas.
    Marcio Chicca

  •    Responder

    […] Em maio de 2011 comecei a interessar-me pelas câmaras sem espelho. Nessa altura, a portabilidade do sensor micro 4/3 (com um tamanho de 18mm por 13,5mm) deixou-me a pensar como tudo ficaria muito mais leve, com objetivas pequenas e imaginei o que seria levar todo o meu equipamento numa mochila com 1/3 do tamanho da que tinha na altura. Para quem se movimenta no campo como eu, essa visão era muito apelativa. Fui ter com a Panasonic que gentilmente me emprestou uma GF2 e uma G2 com as quais passei uns dias. Em jeito de saudosismo, podem ler o relato dessa experiência também aqui no blog. […]

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