Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

Jómi, Sub-10, Canon EOS 5D Mark II, Canon EF100-400 f/4.5-5.6L IS USM, 400mm, 1/3200, f/5.6, ISO 400

Full-frame vs APS-C: Do Ponto de Vista das Objectivas


Um dos debates mais comuns no mundo da fotografia digital é a escolha entre full-frame e APS-C. É tão popular que a televisão pública já pensou em fazer um “Prós-e-Contras” sobre o tema. Enquanto não o faz, deixo-vos aqui uma análise sobre o tema, do ponto de vista das objectivas e da fotografia que queremos fazer com elas.

Em primeiro lugar, convém estar familiarizado com isto do full-frame o do APS-C. Para isso, não deixe de ler este artigo. Em segundo, queria confessar-lhe que, recentemente, troquei uma das minhas câmaras full-frame por duas APS-C. Terei eu cometido um crime grave? Descubra já a seguir.

Vantagens e Desvantagens dos Sensores

Gostava de começar por elencar as várias vantagens, quer dos sensores full-frame, quer dos APS-C. Embora este artigo deva ser lido do ponto de vista das objectivas que usamos, importa perceber o que temos em mãos, pois pode bem ser que uma destas vantagens/desvantagens constitua o ponto-chave para conseguir fazer a fotografia a que nos propomos.

Começando pelos sensores full-frame, a principal vantagem reside no facto de estes serem menos propensos à geração de ruído do que os seus congéneres mais pequenos. Os sensores são constituídos por centenas de células fotoelétricas (photosites em inglês) que transformam a luz em pixéis digitais. Os sensores de maior dimensão são constituídos por células de maior dimensão, naturalmente capazes de obter uma maior gama dinâmica, melhor relação sinal-ruído e maior sensibilidade à luz. Tudo isto permite a obtenção de imagens de maior qualidade digital, com menor ruído em ISOs elevados.

Por outro lado, os sensores APS-C têm a grande vantagem de custarem muito menos a produzir, o que reduz, na maior parte das vezes para mais de metade, o preço de compra de uma câmara equipada com estes sensores. Para a maior parte de nós, donos de um orçamento limitado para gastar em fotografia, esta é uma vantagem deveras importante.

Existem ainda uma série de outras vantagens e desvantagens, mas, na minha opinião, nenhuma delas pesa tanto na balança na hora da escolha como estas duas e, por isso, penso não valer a pena discuti-las aqui.

Posto isto, se a sua fotografia necessita constantemente de ISOs altos, tal como na Astrofotografia ou na fotografia Social, então não há como escapar à compra de uma full-frame. Por outro lado, se a sua fotografia é feita maioritariamente recorrendo a ISOs razoáveis (e aqui razoáveis quero dizer até 3200), então dificilmente verá diferenças numa fotografia bem exposta entre uma APS-C e uma full-frame. Digo isto por experiência própria. Mas se quiserem ir espreitar pixéis com uma lupa podem usar este comparador (dpreview.com).

Colocando as objectivas na equação

Vamos então adicionar as objectivas a esta conversa, no intuito de perceber o que elas sofrem com a diferença entre sensores.

Como já escrevi no artigo anterior, o tamanho do sensor afecta, de forma directa, o ângulo de visão das objectivas, alterando a distância focal equivalente no caso dos sensores APS-C. Uma 50mm numa full-frame corresponde a uma 100mm numa Micro 4/3 (como a Panasonic Lumix DMC-GX8), a uma 75mm na Nikon D7100 e a uma 80mm na Canon EOS 70D. Os vários factores de corte (2x, 1,5x e 1,6x) fazem que a imagem produzida pela mesma distância focal (50mm) seja equivalente a uma distância focal superior, reduzindo assim o ângulo de visão da cena fotografada, ampliando a mesma.

Com este racional em mente, é fácil perceber que este factor é benéfico sempre que seja necessário um “zoom extra” e prejudicial quando o objectivo é captar o maior ângulo de visão possível. Por esta razão, é sensato concluir-se que fotógrafos de desporto e de vida animal podem lucrar com o formato APS-C e fotógrafos de paisagem e arquitectura tenham a beneficiar do full-frame. Os próprios fotógrafos de retrato também poderiam ganhar com o APS-C, uma vez que teriam fácil acesso à objectiva clássica de 85mm pelo preço de uma 50mm, talvez a lente mais barata e popular de todo o mundo da fotografia.

Caso de Estudo

Como vos disse no início, recentemente troquei a minha Canon EOS 5D Mark II, uma câmara equipada com um sensor full-frame, por duas câmaras APS-C: a Canon EOS 7D Mark II e a Fujifilm X-T1. A razão deste movimento explico já de seguida.

Como sabem, a minha principal actividade como fotógrafo centra-se na fotografia de natureza, em especial na paisagem natural. Para isso, considero que o formato full-frame é o mais adequado, principalmente porque permite o acesso a objectivas grande-angular de qualidade profissional. Até há bem pouco, o meu intervalo focal de eleição andava à volta dos 16-40mm e não há oferta profissional da Canon neste intervalo para APS-C. Para além disso, a maior gama dinâmica (comprovada e não teórica) e qualidade na recuperação das sombras dos sensores full-frame, faz com que esta seja a escolha que ainda me acompanha.

Recomendação: Full-frame para Paisagem Natural e Arquitectura

Canon EOS 7D Mark II, Canon EF 70-200mm f/2.8 IS II USM, 200mm (320mm), 1/2000, f/2.8, ISO 2500

Canon EOS 7D Mark II, Canon EF 70-200mm f/2.8 IS II USM, 200mm (320mm), 1/2000, f/2.8, ISO 2500

Há cerca de dois anos, comecei também a fotografar desporto. Mais precisamente, râguebi. Por culpa do meu filho, dos seus companheiros e treinadores no GDD, descobri uma modalidade apaixonante e altamente fotogénica. A gama de emoções que nasce de um jogo de râguebi é infindável e registar esses momentos da melhor maneira tem sido também o meu desafio nos últimos tempos. Isso e fazer memória da evolução do meu miúdo e seus companheiros. Para isso, senti que precisava de uma nova câmara e novas lentes. A minha 5D Mark II, para além de “lenta a disparar”, tinha um sistema de autofoco que, sendo bom para a paisagem, deixava um pouco a desejar noutras disciplinas da fotografia. Par além disso, com uma full-frame nas mãos, vi-me muitas vezes a usar a minha 100-400mm f/4.5-5.6, pois como não andamos dentro de campo, a arriscar uma placagem mais inadvertida, precisamos de distâncias focais à volta dos 300mm. Mas f/4.5-5.6 não é “rápido” o suficiente, fazendo que f/2.8 seja o ideal. Assim sendo, em termos de objectivas, precisava de uma 300mm f/2.8 num corpo full-frame. Vamos então a contas. Uma Canon 300mm f/2.8 custa a módica quantia de €6595. A juntar a este peso financeiro há o peso físico da objectiva: 2,35Kg. Vou poupar-vos as contas da compra de uma máquina full-frame para substituir a 5D Mark II, pois podia usar a 5D Mark III que tenho. Embora não fosse o ideal, seria certamente uma solução. Mas a decisão que tomei foi outra: vendi a 5D Mark II e a objectiva 100-400 e comprei a 7D Mark II. Por “apenas” 1400 euros fiquei com o conjunto ideal para fotografar desporto. Juntei à minha fabulosa Canon EF 70-200 f/2.8L IS USM II (certamente uma das lentes mais amadas da marca nipónica) uma câmara capaz de 10fps e com um sistema de autofoco semelhante ao da topo-de-gama 1DX e consegui, com este sistema APS-C, uma distância focal equivalente de 112-320mm a f/2.8. E com quase 1Kg menos… Mesmo aquilo que precisava para fotografar desporto a uma pequena fração do custo e do peso.

Recomendação: APS-C para Desporto e Vida Animal

Antes de terminar e deixar o porquê da compra da Fujifilm X-T1 para outro artigo, queria apenas esclarecer um ponto importante.

Como certamente já entenderam, eu poderia cortar as imagens provenientes da Canon 5D Mark III, produzidas com a 70-200mm, para produzir uma imagem com o ângulo de visão de uma 300mm. Para isso, apenas teria de aplicar um factor de corte de 1,5x, semelhante a usar uma câmara com sensor Nikon DX e fotografar a 200mm. O problema é que, ao fazer isto, iria perder resolução. Os ficheiros nativos da 5D Mark III a 22,1MP (5760×3840) iriam passar para 9,8MP (3840×2560), o que até é perfeitamente aceitável para publicar na internet e para imprimir em tamanho A3. O problema é que perdia em flexibilidade na edição. Se tivesse de cortar a imagem em pós-produção ficaria com pouca margem na impressão. Com a solução APS-C, consigo usufruir dos 20MP da 7D Mark II com um ficheiro nativo de 5472 x 3648.

Espero que tenha ficado mais claro que, dependendo do tipo de fotografia que queremos fazer e do nosso orçamento, escolher uma APS-C pode mesmo ser a decisão mais acertada. Como referi, deixo para um próximo artigo o porquê da compra da Fujifilm. Levanto apenas uma pontinha do véu: aqui, o tamanho conta!

Até lá, boas fotos.

2 Comentários

  •    Responder

    Gostei do artigo… Está bem explicado.
    Estas coisas são mesmo assim. Torna-se um vício. E qualquer equipamento que a gente compre, ficamos sempre na dúvida que, fazendo mais um esforço, poder-se-ia compra o modelo a seguir. Seja nas máquinas , seja nas lentes ou até nos filtros.
    O grande problema disto tudo são os preços proibitivos da maior parte das cosias. Depois há a questão dos modelos que não param de sair. E quando a gente pensa em comprar alguma coisa e vai fazer uma pesquisa, são inevitáveis as comparações que fazem com os equipamentos mais avançados… De maneiras que, a maior parte, julgo que funcionam mais ou menos como eu. Temos uma coisa… Ao princípio ficamos felizes e parece que era mesmo aquilo que era preciso e não precisamos de mais nada… Mas rápido surgem novas curiosidades e já apetece novamente trocar ou compra outra lente, por exemplo. Nunca estamos contentes com o que temos. O ideal era ser tudo rico e comprar sempre os equipamentos de topo. É que nisto, até parece que somo inferiores se vamos dar um passeio fotográfico com pessoal que tem full frame e tem uma máquina de topo… Costumo dizer que os equipamentos são importantes, mas nunca serão eles a definir o fotógrafo. Vejo fotos lindíssimas de máquinas “cropadas”. Mas enfim, tudo isto faz parte e são estas coisinhas que nos dão pica, e uma coisa comprada com esforço vale muito e obriga-nos a estimar bem e a estudar ainda melhor…
    A mim, o que me fazia mais dúvidas era, se por exemplo temos duas máquinas com 24 MPixeis, porque é que a imagem final é melhor numa fx que numa dx… Mas lendo essas questão do tamanho dos pixeis, sim, entende-se. 90% Das pessoas tem equipamento a mais para aquilo que precisa. Porque 99% desses 90% tiram fotos caseiras para por no facebook, de caráter não profissional, sendo que, quase já toda a gente edita as imagens e puxa pelas cores ou diminui o ruído via digital, daí que, vista a foto editada não se consegue a olho nu, distingir se foi feita em fx ou dx.
    Isto já vai longo, apetece sempre falar e partilhar experiências… Haja alegria e disposição para se tirar fotos, sem isso, nada sai bem… Seja com que máquina seja.
    Cumprimentos desde a Beira Baixa…
    A. Brito

  •    Responder

    Olá. Obrigada pelo texto. Se compreendi bem, posso então usar uma objectiva FX na minha Canon DX? Estava a pensar numa 24-105 a 2.8, mas só existe em FX e, por enquanto, gostava de manter a minha DX, pois fotografo mais retrato (exterior) e desporto (interior)

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