Objectivas Macro XF: 60mm vs 80mm
Algures no tempo, todos nós fomos impelidos a fotografar alguma coisa pequena: uma flor, um insecto, um objecto lá de casa. Nesse ímpeto de captar a beleza das coisas minúsculas, muitos de nós fomos parados por limitações de equipamento. E é nessa altura que começamos a sonhar com uma objectiva macro.
A minha primeira objetiva macro foi comprada ainda no tempo do analógico, em finais do século passado. Mas, tal como acontece com muito boa gente, a Sigma 105mm que comprei na altura, raramente saiu da mochila e acabei por a vender como nova uns anos depois. Para muitos de nós, a fotografia macro é apenas um capricho ou uma vontade passageira. Para outros, é uma paixão e a componente central da sua produção fotográfica.
A minha relação com as objetivas macro mudou radicalmente quando deixei de fotografar apenas paisagem natural para começar a fotografar natureza. No mundo natural, há muitas coisas pequenas, a começar pelas flores e, dentro dessas, as orquídeas. Os mais atentos ao meu trabalho sabem que as orquídeas fazem parte dos meus sujeitos favoritos e é a elas que dedico grande parte do meu tempo fotográfico entre Fevereiro e Maio.
Quando abracei o sistema X da Fujifilm, a única objectiva macro disponível era a XF 60mm F2.4 R. Embora a tenha experimentado diversas vezes e feito centenas de fotografias com ela, nunca a adquiri, na esperança que a marca japonesa lançasse uma objetiva que tivesse um factor de ampliação de 1:1. Isso aconteceu em Setembro de 2017 quando a Fujifilm anunciou a XF 80mm F2.8 R LM OIS WR, talvez a melhor objetiva macro que já tive a oportunidade de usar.
Neste artigo pretendo comparar as duas objetivas em termos de utilização e de características físicas, deixando de lado a matemática óptica que poderão consultar facilmente na internet.
Tamanho, peso e demais atributos físicos
Lado a lado, a diferença de tamanho é o que mais salta à vista entre as duas objectivas. A XF 60mm, com apenas 71mm de comprimento e 215gr de peso contrasta com a XF 80mm e os seus 750gr e 130mm de comprimento. É quase o dobro do tamanho e 3,5x de peso para a objectiva mais recente.
Pode parecer que peso e tamanho não tenha sido algo que a engenharia da Fujifilm teve em conta ao desenvolver a XF 80mm, mas o que é certo é que esta objectiva tem mais componentes de plástico do que a XF 60mm, integralmente construída em metal. Ainda assim, a qualidade de construção da XF 80mm é muito boa e o bloco parece bastante compacto e isso sente-se quando se a tem na mão. Ao contrário da mais pequena das duas, a XF 80mm tem grupo de foco e de estabilização solto. Este conjunto precisa de energia para ser mantido no lugar, o que significa que quando a câmera está desligada ou a objectiva não está montada na câmara, os elementos deste grupo podem mexer-se (a gravidade funciona mesmo). Se ouvir um “chocalho” já sabe que é normal e nada está avariado. Uma vez ligada, os grupos ópticos destas objectivas (tal como na maioria das objectivas macro) geram todos os tipos de “zumbidos”, mesmo quando o foco automático e o OIS estão desligados. Não são decididamente objectivas para serem usadas em video… Ainda assim, a XF 80mm é das objectivas macro mais silenciosas que já usei.
Ambas as objectivas trazem de origem um pára-sol que é de plástico na XF 80mm e de metal na XF 60mm. Se fosse eu a decidir, seria de metal nas duas. Outra semelhança entre as duas é a presença do anel de aberturas que permite controlar a abertura diretamente na objectiva, uma das características que mais gosto no sistema X.
Na XF 80mm existem dois interruptores no corpo da objectiva que a XF 60mm não tem. O primeiro permite ligar e desligar a estabilização óptica (OIS) e o segundo para escolher a distância de foco: total, útil para retratos, por exemplo, ou limitá-la a uma distância de foco “normal” (50 cm a infinito) ou macro (25 cm a 50 cm). Saber usar este último interruptor é fundamental para uma utilização eficiente e rápida da objectiva.
Finalmente, em termos físicos, há que notar que a XF 80mm exibe o selo WR, tornado-a resistente às intempéries e à poeira, graças a 11 pontos de selagem. Também foi construída para aguentar temperaturas tão baixas quanto -10°C. É ainda a única das duas compatível com os teleconversores atuais da Fujifilm.
No terreno
Embora ambas as objectivas produzam resultados excelentes, eu diria que têm utilizações diferentes. A XF 80mm consegue um nível de ampliação de 1:1. Isto quer dizer que consegue captar sujeitos no seu tamanho real. Para terem uma ideia, um insecto com 1 cm de comprimento terá 1 cm quando projectado no sensor da câmara. A XF 60mm, com o seu factor de ampliação de 1:2 apenas consegue que o mesmo insecto ocupe 0,5 cm no sensor da câmara, ou seja, ocupando metade do tamanho. Este factor de ampliação é muito importante quando se trabalha com sujeitos pequenos ou quando se pretende captar detalhes em sujeitos pequenos. Por exemplo, captar os detalhes das asas de uma borboleta e encher o rectângulo da imagem sem recorrer a cortes em pós-processamento é tarefa muito difícil na XF 60mm. Pelo contrário, a XF 80mm, com a sua capacidade de produzir imagens em tamanho real, consegue captar imagens deste género de forma mais simples.
Para além do factor de ampliação, a distância de trabalho entre as duas objectivas também varia por causa da diferença de amplitude focal. Ainda que sejam apenas 20mm, ao termos a possibilidade de adicionar um teleconversor à XF 80mm permite-nos transformá-la numa 112mm (168mm no formato 35mm) quando usamos a versão 1.4x ou numa 160mm quando usamos o 2x. Com a XF60mm, dificilmente conseguiremos fotografar um insecto ou animal mais sensível, pois para o captarmos teríamos de chegar perto demais. Com a XF 80mm conseguimos a distância suficiente para que a nossa presença não os assuste e afugente. Um pouco à semelhança da Canon EF 180mm que usei com grande prazer no passado e que produzia imagens excelentes.
Em termos de velocidade de foco, a XF 80mm é sem dúvida a objectiva macro mais rápida que já usei. Raramente a uso em manual e o seu modo automático acerta sempre (desde que o interruptor de distância esteja selecionado corretamente) e de forma bastante rápida e silenciosa. Aquela procura pelo foco tão comum às objectivas macro, mesmo em ambientes de luz mais ténue, é muito rara na XF 80mm. É mesmo excelente. A XF 60mm já não é assim tão perfeita e muitas vezes dou com ela a procurar… sem conseguir agarrar o foco. Com boa luz este problema não é assim tão frequente, mas em ambientes de pouca luz às vezes prefiro passar para o manual. Em termos de ruído é também muito mais audível que a XF 80mm. O “zumbido” habitual das macro é aqui bem audível, mas nada que impeça que se desfrute dela e da sua excelente qualidade óptica.
A XF 80mm ganha ainda pelo facto de possuir um estabilizador óptico de 5 stops, extremamente útil para quem, como eu, gosta de fotografar macro à mão. Esta característica compensa o peso da objetiva que, ainda assim, tem um bom equilíbrio quando usada na minha X-H1.
No ecrã do computador
Quando analisados os resultados produzidos pelas duas objectivas, posso dizer que são ambas excelentes. Tanto a vinhetagem, como a distorção, são automaticamente corrigidas pelos softwares de processamento RAW (uma vez que as correções estão embebidas nos ficheiros RAW) e são praticamente inexistentes após essa correção. Ainda assim, existe alguma vinhetagem em ambas as objectivas quando totalmente abertas (f/2.4 na XF 60mm e f/2.8 na XF 80mm) o que facilmente se corrige em pós-processamento. Ainda assim há que dar uma vista de olhos nos cantos da imagem quando se usam estas aberturas para garantir que está tudo perfeito. A aberração cromática e “fringing” nas duas objectivas é praticamente inexistente, em especial na XF 80mm.
Em termos de resolução, ambas as objetivas são capazes de produzir imagens fantásticas. Na XF 60mm a resolução central é já excelente a f/2.4, atingido o pico global a f/4. A partir de f/11 os efeitos de difração começam a ter impacto, mas a qualidade continua muito boa. A f/16 os resultados ainda são bastante razoáveis, devendo evitar-se o f/22 devido à suavização algo evidente – infelizmente esta é uma limitação física e não um problema da objectiva.
Na XF 80mm, o centro da imagem é excelente logo na abertura máxima (f/2.8) e permanece a um nível muito alto até que a difração entra em ação aos f/16. O pico de desempenho é alcançado a f/5.6 com excelente resolução de canto a canto.
Em termos do bokeh (a qualidade estética dos elementos desfocados), ambas as objectivas produzem excelentes resultados. A XF 80mm oferece um desfoque de imagem muito suave e bonito, incluindo nas zonas de transição. Nos elementos que ficam à frente do plano de foco, às vezes sinto que o bokeh podia parecer menos “nervoso”. As “bolas” de luz são captadas de forma muito agradável, bem preenchidas uniformemente, com apenas um leve contorno.
A XF 60mm tem também um bokeh muito bonito e talvez ainda mais suave do que a XF 80mm. Tanto nos elementos à frente como atrás do plano de foco são desenhados com suavidade e leveza. Ao contrário da XF 80mm, no entanto, as “bolas” de altas luzes nem sempre são redondas e bonitas. Em algumas aberturas parecem mais um olho, mostrando algumas linhas de contorno. É mesmo de experimentar as diferentes aberturas quando se fotografa contra pontos de luz fortes.
Conclusão
Ambas as objectivas são capazes de produzir resultados excelentes. Ambas têm uma resolução incrível e uma qualidade de construção muito boa, à semelhança da restante oferta da marca japonesa. Neste campo, a XF 60mm, totalmente construída em metal marca pontos.
Em termos de utilização no terreno, a XF 80mm não deixa os seus créditos em mãos alheias. Beneficiando dos últimos avanços da tecnologia da Fujifilm, o seu motor linear, o sistema de estabilização e a sua construção à prova de intempéries garante uma performance inigualável, sendo a opção mais acertada para fotografia de natureza que envolva seres vivos e condições mais extremas. A velocidade e fiabilidade do seu sistema de auto-foco é algo que nunca vi noutra das cinco objectivas macro que já usei no passado. É com poucas reservas que digo que é a melhor macro que já usei.
O bokeh e o desfoque de planos conseguido pelas duas objectivas é que se espera de boas objectivas macro, suficiente para suavizar fundos e realçar os nossos sujeitos.
Para além do peso e tamanho há também algo que as diferencia a ter em conta: o preço. A XF 60mm tem um preço recomendado de 695€ enquanto que a sua irmã mais nova ascende aos 1295€, quase o dobro. Eu diria que, para quem não precisa de uma factor de ampliação de 1:1 e quer andar leve com uma objetiva que lhe permite chegar perto, a XF 60mm é uma boa opção. Para os fotógrafos que levam este tipo de fotografia mais a sério, a XF 80mm é sem dúvida a escolha mais acertada.
Declaração de Interesses: Embora seja fotógrafo X, os conteúdos aqui apresentados são da minha inteira responsabilidade e reflectem aquilo que eu penso verdadeiramente sobre os produtos e a marca, baseado na experiência de utilização continua do sistema X da Fujifilm.
Olá Luís, parabéns pelo excelente trabalho fotográfico.
Pela minha parte, mantenho-me na marca com que comecei há cerca de 30 anos (Pentax).
Tenho aguardado que a marca produza uma objetiva macro mais atual, mas está difícil. Enquanto tal não acontece utilizo uma telefoto que “vai fazendo de macro”.
Possuo uma 24-70, DFA 2.8 da marca, que apresenta alguma qualidade. Contudo, recentemente bloqueou-se o zoom interno e teve de ir para reparação. Não sei se passaste por alguma situação destas ou se tens conhecimento de casos. Achei bastante estranho, numa objetiva relativamente cara (1.300€).
Cumprimentos e continua o excelente trabalho fotográfico em língua portuguesa.