Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

Em conjunto com a câmara, as lentes são as peças de equipamento mais importantes do sistema de qualquer fotógrafo

Admirando a Paisagem: Lentes e Tripé


Lentes

Em conjunto com a câmara, as lentes são as peças de equipamento mais importantes do sistema de qualquer fotógrafo. Há quem defenda que a qualidade das lentes é o factor mais importante no resultado final de qualquer imagem e a minha experiência pessoal diz-me que esta teoria tem fundamento. Se no formato full-frame a qualidade das lentes é fundamental para a qualidade final da imagem capturada, já no formato APS-C a escolha deve ser realizada com conta, peso e medida. Existem lentes que produzem os seus melhores resultados dependendo do sensor onde são usadas e esse factor deve ser tido em conta na hora da compra. Ainda assim, a minha recomendação é que se compre a melhor lente que o orçamento possibilitar, ainda que para isso se tenha de comprometer a escolha da própria câmara. Na minha opinião, é melhor comprar a lente mais capaz do que a máquina mais cara e com mais funções.

Segue-se a lista das lentes essenciais no kit de qualquer fotógrafo de paisagem natural.

  • Lentes Ultra Grande Angular: se é, como eu, um amante dos grandes espaços, de uma sensação de profundidade intensa e de céus ricos e envolventes, não tem como escapar à compra de uma lente deste tipo. Distâncias focais de 14mm a 28mm (10mm a 18mm no formato APS-C) são os mais habituais neste tipo de lentes. São os mais usados na fotografia de paisagem natural e é a minha lente de eleição. Cerca de 75% da fotografia que faço é realizada através do recurso a lentes deste tipo. Os elementos no primeiro plano conduzem o olhar pela imagem até ao cenário que se vislumbra lá atrás. Quanto maior for a amplitude angular, mais perto terá de estar do elemento no primeiro plano e este elemento constituirá, na maior parte das vezes, o elemento fundamental da foto. A perspectiva conseguida por uma lente ultra grande angular empresta uma forte sensação de profundidade (especialmente quando combinada com aberturas muito pequenas) e uma visão tridimensional muito própria. Quem está a contemplar a imagem tem a sensação de poder andar sobre ela. Lente no meu saco: Canon EF 17-40mm f/4.0 L USM.
  • Grande Angular moderada ou Normal: lentes no intervalo 28-70mm (18-55mm no formato APS-C) possibilitam a obtenção de imagens que mais próximo se identificam com aquilo que o nosso campo de visão está habituado a ver. A dominante da cena será sempre o segundo plano e um elemento no primeiro plano pode ser usado mas nunca será o elemento primordial. Utilizo-as fundamentalmente para registar imagens na floresta, cascatas ou para planos de detalhe, onde a tridimensionalidade da cena não é importante. Lente no meu saco: Canon EF 24-105mm f/4 L IS USM.
  • Telefoto: As lentes de distância focal superior a 70mm não devem ser deixadas em casa e, surpreendentemente, são mais usadas por mim no terreno do que as lentes do tipo anterior. Têm a possibilidade de compressar a perspectiva e conseguem isolar um determinado elemento na cena com alguma facilidade. São também as ideais para capturar o sol ou a lua numa cena sem os tornar muito pequenos – como acontece com as grande angular –, conseguindo assim imagens de rara beleza e fora do comum. Hoje em dia, é a lente que me acompanha sempre ao lado da ultra grande angular. As lentes deste tipo podem ser também utilizadas como substitutas de uma lente macro. Embora não produzam o mesmo nível de reprodução 1:1, são suficientes para registar aquilo a que se chamam paisagens íntimas, ou seja, pequenos detalhes da natureza num enquadramento mais aberto do que o mundo miniatura conseguido através de uma lente macro. Para ser sincero, também tenho uma lente macro, mas essa fica em casa na maior parte das vezes e não me lembro da última vez que a usei. Escolho, então, deixá-la de fora desta minha lista de essenciais. Lente no meu saco: Canon EF 70-200mm f/4.0 L IS USM.

Estas são as três lentes que deve equacionar ter no seu saco e as que normalmente deve transportar consigo sempre que possa. Mas qual delas deve comprar primeiro se estiver agora a começar?

A resposta a esta questão tem muito a ver com o seu estilo de fotografia. Eu, por exemplo, sou amante da fotografia de grandes espaços e a sensação de profundidade e diálogo entre planos é fundamental no meu trabalho. Para isso, preciso de uma ultra grande angular e é essa lente que me acompanha sempre, por vezes sozinha. Por outro lado, se é amante dos detalhes, a telefoto deve acompanhá-lo sempre. A sua visão perante a arte é essencial nesta escolha e, se tiver orçamento para apenas uma, deve concentrar-se neste ponto antes de fazer a sua escolha. Depois, à medida que for evoluindo e criando novas necessidades pessoais, poderá ir juntando ao seu arsenal novas opções que lhe permitirão novos estilos no âmbito da sua própria fotografia. Mais uma vez, atendendo à minha convicção pessoal, é preferível comprar a melhor lente que o seu orçamento permita, para associar a um determinado estilo dentro da paisagem natural, do que comprar duas menos boas para que possa abraçar dois estilos. Desta forma, não sentirá que o seu investimento foi em vão quando perceber que a qualidade das lentes que adquiriu já está aquém daquilo que almeja.

Tripé

Para terminar a lista de equipamento essencial ao fotógrafo de paisagem natural falta adicionar o tripé. O tripé, muitas vezes descurado por alguns, é peça chave na obtenção de imagens de elevada qualidade. O entusiasta de fotografia típico tem a noção – errada – de que a escolha da câmara é o factor número um a ter em conta no que diz respeito à qualidade da imagem. Na realidade, a escolha da máquina a utilizar é talvez o menos importante dos três que apresento neste artigo, quando estamos a falar na qualidade final da imagem. Uma câmara barata montada sobre um tripé firme terá sempre a possibilidade de produzir melhores imagens do que uma câmara de topo “segura” por um tripé que baloiça…

Na fotografia de paisagem natural, a utilização de tempos de exposição longos impossibilita a realização de imagens sem o recurso a um tripé. A utilização das aberturas de maior qualidade das lentes já apresentadas, e que na maior parte das vezes se situa no intervalo f/8 a f/16, implica também a utilização de exposições não compatíveis com a trémula mão humana. Além disso, experimentar fazer uma boa fotografia ao nascer ou por do sol sem o uso de um bom tripé é tarefa impossível. Um tripé permite ainda concentrar o fotógrafo no cenário que tem perante si e dar-lhe o tempo necessário para pensar no melhor enquadramento da realidade natural que tem de “aprisionar” no visor da sua máquina. Como podemos ver, a qualidade da imagem está muito dependente do tripé que se usa, por isso não olhe a meios para comprar o melhor que o seu orçamento possibilitar.

Normalmente, os tripés são adquiridos sem a cabeça que suporta a máquina. Para o “trio de pernas” há que ter em conta os seguintes aspectos:

  • Quanto mais leve melhor, mas não sacrifique a qualidade pela leveza. Materiais como o carbono absorvem melhor a vibração do que o metal e são muito mais leves, isto tudo sem sacrificar a robustez. Tenha em atenção o peso que tem de suportar (corpo mais lente) e some 2,5kg de reserva;
  • Se vai fotografar na praia (e em Portugal vai de certeza) evite os tripés que usam trancas por torção. Estas tendem a estragar-se com a areia e a água, mesmo as de marcas prestigiadas como a Gitzo. Prefira as de mola que, embora sejam mais lentas a fechar/abrir, duram anos no nosso meio ambiente;
  • Deve ter um gancho para pendurar um objecto pesado (por exemplo a mochila) para aumentar a estabilidade nos dias mais ventosos;
  • Uma bolha de nível na base da câmara é fundamental para manter o tripé nivelado para fotografar panoramas;
  • As pernas devem abrir independentemente umas das outras e poder ser estendidas ou encolhidas de forma independente também. Por esta razão, não deve haver qualquer ligação entre as três pernas;
  • Se puder comprar um tripé de 3 secções será preferível. Alem de serem mais rápidos a montar, são mais estáveis. Têm no entanto a desvantagem de ser mais longos quando recolhidos.

A cabeça que suporta a máquina deve ser escolhida tendo em conta o equipamento que esta vai suportar. Deve pesar o corpo e a lente mais pesada que vai usar (adicionando uma margem de segurança para acessórios) e adquirir uma cabeça certa para o peso indicado. Existem vários tipos de cabeça, desde bolas hidráulicas, joysticks, manípulos que permitem regular os vários ângulos… A minha preferência vai para as do tipo bola que permitem uma maior liberdade na escolha do ângulo e um manuseamento mais rápido. Deve escolher uma cabeça que permita a rotação da máquina na horizontal (panning) e nos restantes ângulos e que tenha uma placa de ligação à máquina de rápida libertação (quick release plate). Os botões de controlo devem também ser rápidos de operar, visto que vão ser usados milhares de vezes. Se puder, experimente a cabeça antes de a adquirir.

No que diz respeito à altura do tripé, é muito importante que a combinação tripé/cabeça faça com que a sua máquina chegue ao nível dos seus olhos sem a necessidade de elevar a coluna central. A minha experiência diz-me que isto é muito importante. Durante alguns anos usei um tripé que não tinha esta característica e fui confrontado com situações no terreno que exigiam um ângulo de visão superior.

Actualmente, utilizo um Manfrotto 055CXPRO4 que é feito em carbono e uma cabeça 488RC2. Este tripé é leve o suficiente para o levar comigo nas minhas caminhadas de horas, onde tenho de subir terrenos muito inclinados e onde convém caminhar leve, ao mesmo tempo que me dá a segurança necessária no que diz respeito à firmeza com que suporta o meu equipamento.

Recomendações: Manfrotto, Slik, Velbon (tripé); Kirk Ball head BH-1, Acratech, Really Right Stuff BH-55 (cabeças), entre outros.

Apresentadas que estão as três peças fundamentais a figurar na lista de equipamento de qualquer fotógrafo de paisagem natural, não se esqueça que, antes de puxar do cartão de crédito, é fundamental definir quais são os seus objectivos em termos fotográficos e qual a sua visão perante o mundo que o rodeia. O equipamento deve submeter-se à sua arte e não deve ser este a fazer tocar a orquestra. E lembre-se, o equipamento mais importante para a prática desta apaixonante actividade já viaja consigo: os seus olhos.

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