Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

First Light, Joe Cornish

First Light, Joe Cornish


Tal como um poeta usa palavras, assim o fotografo usa a luz.Joe Cornish

“Primeiro, Luz”. Assim começa o primeiro livro editado pelo fotografo inglês Joe Cornish.

Não é segredo para ninguém – pelo menos os mais atentos – a minha grande admiração pelo trabalho do senhor Cornish, o qual considero uma das minhas influências principais. Mas talvez não seja tão óbvia a minha devoção por aquilo que ele diz e escreve, em consonância com aquilo que ele vê e captura.

Esta sua primeira obra, de uma lista que conta já 8 títulos, é sem dúvida uma das obras de referência da fotografia de paisagem natural e não foi por acaso que foi o primeiro livro que comprei há quase uma década.

O título, “First Light” pode ser um pouco enganador, mas a primeira frase que referi anteriormente promete esclarecer o enigma, através do uso de uma simples vírgula. A luz de que Cornish fala não é primeira no sentido dos primeiros raios de sol do amanhecer; é sim primeira na sua importância na arte fotográfica e no lugar que ocupa no momento em que a fotografia é pensada na cabeça do autor. No momento de fazer a fotografia, em primeiro lugar está sempre a luz!

Ao longo de mais de sessenta imagens, Joe viaja connosco por um universo onde a luz tem assento de primeira classe. Como ele diz no texto introdutório do primeiro capítulo, “a fotografia de paisagem está construída sobre três pilares: tempo, luz e composição” e é com este leitmotiv que a narrativa se desenrola através dos 7 capítulos que compõem o livro. O tempo certo para fazer determinada fotografia é na maior parte das vezes indicado pelas condições de luz e até a própria composição é dominada por ela. É a luz o centro de toda a magia fotográfica e é ela que deve estar no coração de qualquer fotografo no momento de pensar a fotografia.

Embora a divisão das fotos pelos capítulos possa não fazer muito sentido, é fundamental ler o que Cornish nos tem a dizer no início de cada um deles. A escrita pouco tem de técnico – o que a mim pessoalmente me agrada muito -, sendo que a componente filosófica da arte e da própria fotografia pincela todo o livro. É uma escrita que pretende inspirar e não fazer transpirar…

A acompanhar as 60 e poucas imagens, está um pequeno texto que conta a história da fotografia em termos pessoais, transportando-nos na maior parte das vezes para o momento que medeia entre o pensar da imagem e o fazer da imagem. É esta viagem intima pela mente de um dos mais brilhantes fotógrafos de paisagem do nosso tempo que torna esta obra tão especial. Juntamente com o texto, há lugar também para uma foto que Cornish considerou não ter resultado tão bem, explicando o porquê. Um aspeto muito interessante do livro e da narrativa.

Escusado será dizer que a compra do livro valeria por si só para poder deambular pelas magníficas imagens nele presentes. Aviso desde já que é essa também uma das maiores tentações de quem pega no livro. Mas deixem-me garantir-vos que para melhor compreender a mente do fotografo e para verdadeiramente nos deixarmos inspirar a seguir o nosso caminho de maneira diferente e mais inteligente a leitura é essencial.

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