Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

The Making of Landscape Photographs, Charlie Waite

The Making of Landscape Photographs, Charlie Waite


A paisagem é algo que perdura. Esta não é uma coisa passageira.Charlie Waite

Para terminar a minha série de livros essenciais sobre fotografia de paisagem – o próximo será certamente sobre outro estilo fotográfico – deixei para o fim um dos livros mais antigos da minha biblioteca.

Em 1991, Charlie Waite, lançava um dos livros de referência sobre este estilo de fotografia tão apaixonante. Numa era ainda longe do vertiginoso imediatismo do digital, Waite oferecia-nos uma vibrante viagem por 150 das suas melhores fotos acompanhadas por palavras que explicam como estas se desembrulharam da alma do seu criador, que decisões técnicas foram tomadas, o que resultou e o que foi deixado de lado na composição. São mais de uma centena de páginas um pouco datadas em termos de desenho, mas certamente muito atuais em termos do conhecimento que partilham.

Charlie Waite é um dos fotógrafos de paisagem mais reconhecidos do nosso tempo. Com mais 30 livros publicados, criador de um dos projetos de workshops mais interessantes do mundo e de um concurso de fotografia de igual calibre, pouco tem neste momento para provar. Inspirou centenas de pessoas e continua a fazê-lo a cada dia que passa. E esta publicação, estou certo, é um dos maiores contributos para tal.

O livro está divido em vários capítulos, em vários temas. Existem secções dedicadas à composição, outras refletindo mais sobre aspetos como a luz, o tempo e a cor. Há lugar para alguma técnica e como ela afeta as decisões que se tomam em termos da construção da imagem e ainda espaço para três capítulos onde a água, céu e edifícios tomam lugar central na produção artística do autor. E há secções dedicadas à grande vista, ao intimismo da paisagem e aos métodos necessários para produzir aquela gloriosa imagem merecedora de uma grande impressão. Em comum a todos estes capítulos está a narrativa e a sua forma.

Sobre cada imagem, Waite tece comentários explicando o que deambulava pela sua cabeça no momento de construção da imagem. Para exemplificar com maior detalhe um determinado ponto, permite-se “duplicar” as suas imagens mostrando inclusive versões que não funcionaram tão bem. O fotografo não tem pudor em admitir o que fez mal e partilhar connosco o que pensa ter realizado bem. E é este espírito de verdadeira partilha que se sente em todo o livro e que nos inspira e impele a fazer mais e melhor.

Uma vez mais, este livro não é propriamente um livro de receitas. Estou certo que já me conhecem e compreendem que não é desses livros que a minha biblioteca está cheia. No entanto, Waite não deixa de colocar junto a cada foto os dados técnicos da mesma (câmara, filme, lente, exposição e filtros), permitindo assim que tenhamos uma ideia de qual a técnica que foi usada para fazer determinada fotografia.

Em jeito de resumo apetece-me dizer que este livro é um dos percursos visuais mais duradouros que me lembro de ter percorrido. Recordo ainda como há uns 10 anos me marcou a foto da página 63, de um campo de papoilas entre-cortadas pelas doces oliveiras mediterrâneas, pela sua simplicidade, mas principalmente pelo texto que a acompanha, e principalmente todo o capítulo sobre a água na paisagem. Para alguém que estava a começar na fotografia de paisagem, filosofar sobre o tema era certamente algo importante que me abria o olhar e me fazia pensar em algo mais do que apenas aberturas e velocidades. A profundidade (de campo), nas palavras de Charlie Waite, era uma coisa completamente diferente…

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