Banco de Testes: Hahnemühle Linha Natural
A Hahnemühle é uma empresa alemã, fundada em 1584, referência no mundo da produção de papel para artistas e cientistas, nomeadamente em soluções para impressão giclée. Em minha casa, existem permanentemente papeis da marca, desde que comecei a imprimir há mais de 15 anos. Utilizando apenas matéria-prima da mais alta qualidade, com recurso a fórmulas e processos com séculos de experiência, os seus profissionais são, nas suas próprias palavras, “perfeccionistas e parceiros confiáveis para artistas, fotógrafos, impressores e cientistas”. A juntar a tudo isto está ainda a consciência ambiental. As suas instalações produtivas estão sediadas, há mais de 435 anos, às portas de uma reserva natural da Baixa Saxónia. Portanto, equilibrar a produção de papel com as necessidades do mundo natural está na essência da Hahnemühle.
E talvez seja esta a resposta certa para a questão que muitos de vós podem estar a fazer: com tantos papéis fine-art mate, de longevidade comprovada, no seu portfólio, o que levará a empresa germânica a colocar no mercado mais três opções?
Bom, na realidade são apenas duas, pois o papel Bamboo não é necessariamente novo. O que é relativamente nova é a sua linha “Natural”, lançada em fevereiro de 2020 e atualmente disponível em Portugal nas principais lojas da especialidade. E, embora a linha Digital Fine Art já contenha mais de uma dezena de excelentes papéis mate, grande parte deles em algodão, a Hahnemühle decidiu criar uma linha de papéis com forte consciência ecológica, não só no que diz respeito à sua produção, mas também aos materiais de que são feitos.
O que me proponho neste artigo é apresentar-vos os três papéis e os resultados dos meus testes com cada um deles.
Método de análise
Cada uma das folhas A4 foi cortada, usando a minha cisalha A2, em duas folhas A5. Em cada folha A5, de cada um dos papéis, imprimi a minha folha de teste (cortesia da Datacolor e que podem descarregar aqui) que foi depois fotografada sob luz natural (não direta), para se perceber a cor do papel, textura e reprodução das cores. A imagem foi impressa na minha Epson Surecolor P900, com tintas pigmentadas UltraChrome Pro 10 (10 tinteiros), utilizando os perfis ICC descarregados do site da marca para a EPSON P700/p900. As fotografias foram depois acertadas em Lightroom para sincronizar o equilíbrio de brancos de todas as fotos e assim poderem ser comparadas. Não foi feito qualquer outro ajuste.
Bamboo 290g/m2
Em fevereiro de 2008, já o Hahnemühle Bamboo ganhava prémios, principalmente pela criatividade da sua oferta: pela primeira vez um produtor apresentava ao mercado um papel fabricado com 90% de fibras de bambu. Aliada a essa produção, estava e está a questão ecológica e a distribuição de parte dos lucros com a venda deste papel (e dos restantes da linha “Natural”) para projectos de conservação por esse mundo fora, ao abrigo do seu projecto “Green Rooster”.
Ecologia à parte, este papel tem uma tonalidade de um branco natural (83%), ligeiramente quente, tornando-se o parceiro ideal para fotografias onde imperem os tons mais suaves. É igualmente excelente para fotografias de floresta e de ambientes naturais ligados à flora. Sem qualquer elemento branqueador, tem uma textura extremamente suave, diria até aveludado. A sua textura é quase imperceptível quando fotografada, mas é existente, fazendo que seja o papel mais “liso” dos três. Como todos os papéis de fibras naturais da marca, é complementado com um acabamento mate inkjet premium, necessário para uma boa e correta dispersão da tinta sobre o papel, garantindo um nível de detalhe e de reprodução de cor excelentes. Na minha análise, é talvez o papel com mais nitidez dos três presentes na linha “Natural”, ainda que essa diferença seja marginal. O Bamboo cumpre com os mais elevados requisitos de longevidade (certificado ISO 9706), sendo livre de quaisquer ácidos ou lenhina, estando apto a imprimir obras de arte com toda a confiança.
Agave 290g/m2
A segunda opção da linha “Natural” é feito com 70% de fibras da agave sisalana. A fibra de sisal, bem conhecida de todos nós e largamente usada no artesanato, permite a produção de um papel mais branco que o bambu, mesmo sem recorrer a branqueadores. Os 30% de algodão também explicarão a maior brancura do papel. Lado a lado, nota-se que este papel é mais branco que o anterior, chegando aos 89%, e muito menos quente. A sua textura é a mais grossa dos três, notando-se no toque e na maior rigidez do papel. Dos três será o papel mais indicado para impressões de grande formato, pois a sua textura mais marcada empresta uma profundidade mais intensa às obras impressas.
Hemp 290g/m2
O terceiro e último papel da linha “Natural” é feito com 60% de fibras de cânhamo. Curiosamente, estas fibras são usadas há séculos na produção de papel artesanal e, apenas para terem uma referência, da famosa Bíblia de Gutenberg, datada do séc. XV, 35 cópias foram impressas usando papel feito de cânhamo. Um belo atestado à longevidade da matéria prima.
Dos três papéis é o mais branco e isso nota-se claramente quando estão lado-a-lado e, em especial, nas impressões a preto & branco. Mais uma vez, os 40% de algodão podem explicar a sua maior brancura que, mesmo com 89% na ficha técnica, parece efetivamente mais “frio” que os outros três. A sua textura é a minha preferida: mais suave que o Agave, mas mais marcada que o Bamboo. É também a mais uniforme das três.
Este papel é excelente para reproduzir fotografias a preto & branco e consegue uma gradação nos pretos muito impressionante para um papel mate. Às vezes parece mesmo chegar a ter brilho, tal é a gama de contraste que proporciona. A definição é excelente, assim como a nitidez, separando bem os diferentes elementos da imagem. Como é mais branco do que o Bamboo, parece ser mais nítido na maior parte das imagens que imprimi.
Em resumo
A linha Natural da Hahnemühle é composta por três papéis mate de excelente qualidade. Todos têm em comum um acabamento inkjet premium, todos são livres de ácidos, lenhina e agentes branqueadores, o que nos garante requisitos de longevidade seguros. Mas, o mais especial é mesmo a sua composição e a forma como foram pensados. As plantas, das quais se retira a necessária celulose, são cultivadas sem recurso a pesticidas e têm um crescimento mais rápido, consumindo por isso menos água e menos recursos na sua produção. Foram idealizados com uma consciência ecológica, em consonância com o plano de sustentabilidade da empresa e representam a materialização de uma visão. Muitas empresas defendem a proteção do meio-ambiente e dos recursos naturais, mas poucas são as que efetivam essa defesa em medidas concretas. A Hahnemühle oferece-nos uma gama de papel de qualidade, com características de arquivo e que tem um lugar na nossa produção artística sem comprometer qualquer aspecto. Cabe-nos agora a nós abraçar essa causa, sabendo igualmente que ao comprarmos uma caixa de papel da linha “Natural” estamos a contribuir efetivamente para algumas causas de conservação pela mão da Hahnemühle.
No que diz respeito ao preço, importa perceber se um papel produzido com mais equilíbrio ecológico e produtivo é efetivamente mais barato. Uma coisa interessante na maior parte dos produtos bio existentes no mercado é o seu preço mais elevado, o que, na minha opinião, representa um contra-senso e que serve para afastar muitos consumidores de produtos produzidos com maior consciência ecológica. Nestes papéis isso não acontece. O Bamboo é efetivamente mais barato (cerca de 8%) do que um papel com gramagem equivalente produzido em algodão, enquanto que os outros dois são exatamente iguais no preço de referência. O facto de uma parte dos lucros, como já foi dito, reverter para projectos de conservação pode explicar porque não são ainda mais baratos. Também aqui a marca alemã ganha pontos.
O projecto The Print Circle, do qual sou fundador, apresenta, na sua seleção de papéis, o Bamboo, para todos aqueles autores que querem marcar a diferença. Se querem ver como fica uma fotografia impressa nesse papel, adiram ao projecto e peçam em troca da vossa submissão uma das fotografias associadas a esse papel.
No que à minha fotografia diz respeito, estou certo que um destes papéis vai ficar cá em casa em stock contínuo. Ainda estou indeciso entre o Bamboo e o Hemp, mas provavelmente serão os dois, pois ambos permitem soluções diferentes com base em imagens diferentes.
Muito obrigado por esta análise.
Há anos comecei a imprimir em casa e comprei papel desta marca mas depois e erradamente, mudei para Ilford. Não que não sejam bons mas sei por experiência própria que estes da Hahnemühle são claramente superiores.
Ainda imprimo em casa com aquilo que julgo serem todos os requintes e estou tentado a experimentar o Bamboo…