Perspectiva
Um blogue sobre fotografia, por Luís Afonso

Ponte Vasco da Gama, 2006

Play it again, Sam!


Hoje, abri a janela de uma das comunidades fotográficas mais populares do planeta, e lá estava ela, vestida de gala, em lugar de destaque. Refiro-me à PVG, mais conhecida pelo comum dos mortais, como Ponte Vasco da Gama.

Pela enésima vez, uma imagem de um nascer do sol, sobre as águas cintilantes do Tejo, ocupava o lugar cimeiro no topo das preferências dos utilizadores do site. A fotografia? Belíssima! “Igual” a centenas de outras que podemos encontrar derramadas nas páginas dessa mesma comunidade.

Foi então que germinou em mim uma pergunta:

O que é que nos levará a querer fotografar um lugar já retratado vezes sem conta? O que é que nos entusiasma a colocar no nosso cartão de memória uma imagem já tantas vezes vista e revista?

Começo com uma confissão. No computador lá de casa, tenho um pequeno documento onde vou guardando nomes de lugares que descobri um dia, através da leitura ou da visualização de fotografias, lugares de sonho que gostava de concretizar em realidade. O nome do ficheiro? “Locais-a-fotografar.txt”. Essa lista, construída ao longo do tempo, ainda é enriquecida sempre que descubro um lugar potencialmente indicado para a fotografia que gosto de fazer. No início, porém, não era raro escrever uma nova entrada sempre que a fotografia de um lugar me encantasse e me fizesse de imediato querer voar para lá, independente do estilo de fotografia que queria ou não fazer. O feitiço do lugar e o modo extasiante como era retratado bastava.

Por uma razão ou por outra, esses locais continuam por visitar e com o tempo, alguns deles começam a desvanecer-se da lista. Isto, porque, a imagem mental que tenho desses lugares vai sendo alterada pela torrente de fotografias, muitas delas repetitivas, que vou vendo. É fácil perceber porque lugares como a Islândia ou a Patagónia, para dar dois exemplos, deixaram de fazer parte das minhas preferências, substituídos por lugares mais próximos e que me dizem mais, como os Açores ou as serranias do norte de Portugal.

Mas voltemos às minhas perguntas: o que fará alguém querer levantar-se ainda de noite para se plantar em frente à PVG para registar mais um nascer do sol daquele lugar? E mais do que isso, o que o fará querer depois partilhar essa fotografia com um mundo já inundado com essa imagem?

Comecemos pela segunda pergunta. Há quem diga que nós só somos expostos a uma milionésima parte da fotografia que é produzida hoje em dia. Só conhecemos a fotografia que procuramos ou que chega até nós através do nosso círculo de amigos. Assim sendo, faz sentido que partilhemos imagens de lugares sobre-fotografados, pois há sempre a hipótese de alguém próximo de nós nunca os ter visto. Posto desta forma, a argumentação até faz sentido.

Tal como também faz sentido fazermos a tal fotografia de um lugar explorado fotograficamente até à exaustão e, não tendo conseguido fazer nada que marque a diferença e mereça ser partilhado, guardá-la em casa no arquivo pessoal apenas como prova de que estivemos lá e vivemos a experiência.

Ainda recordo a primeira vez que vi uma fotografia daqueles pescadores na China que usam corvos marinhos para desenvolver a sua arte, em vez de uma rede ou cana de pesca. Fiquei siderado com a beleza e significado daquele pedaço de tempo e pensei para comigo: “que momento, que sorte que ele teve em conseguir registar um momento como este de forma tão perfeita”. Esse sentimento de encanto ainda durou uns tempos até que um amigo me contou como essas imagens são registadas. Bastou depois uma pesquisa rápida no Google por “chinese fisherman with birds” e a magia desapareceu para sempre. Embora a qualidade estética da fotografia se mantenha intacta, aquele momento singular e a sua carga emotiva que tanto me tinha seduzido apareceu, repentinamente, escarrapachado no meu ecrã em centenas de fotocópias…

Existe decididamente um sentido de orgulho em fotografar um local icónico, em fazer o postal perfeito, em espetar a nossa bandeira no terreno dos mais populares do mundo (ou simplesmente, da nossa aldeia). O suficiente para provar que “eu também sou capaz”. Fazer jus à máxima de que é preferível ter uma imagem nossa da Torre Eiffel na parede da sala do que uma de um outro fotógrafo qualquer. Mesmo que a do outro fotógrafo seja mais bonita, mais valiosa ou com maior reconhecimento; não é nossa e isso basta para a pôr de lado.

Depois, e para servir de resposta à primeira questão, há o conceito de “visão”. Diz-se que os momentos são irrepetíveis e que, mesmo estando no mesmo lugar, à mesma hora, dois fotógrafos fazem sempre fotografias diferentes. Isto até tem um grande fundo de verdade, embora não deva ser levado à letra. Estou habituado a levar várias pessoas ao mesmo lugar e, mesmo sem os incentivar a tal, não são raras as vezes que diferentes fotógrafos fazem a mesma fotografia.

Mas se esquecermos isso, tal como Celibidache, Toscanini e Karajan apresentavam versões completamente diferentes da mesma sinfonia de Beethoven, também dois fotógrafos conseguem ver um mesmo lugar de maneiras radicalmente diferentes. Isto porque as experiências de vida de cada um são necessariamente diferentes e aquilo que os impele na criação de algo único também o é.

E é aí, na minha opinião, que está a alma da questão. Não há como escapar ao fascínio de uma sinfonia de Beethoven e não haverá lista das “melhores-obras-musicais-de-todos-os-tempos-que-eu-quero-tocar.txt” que não contenha pelo menos uma das nove. O importante é que cada maestro que se proponha a interpretá-las responda à seguinte pergunta: “no final, alguém se vai lembrar do meu nome ou apenas o de Beethoven perdurará nas memórias de quem assistiu ao concerto?”

Ao fotógrafo, nunca será possível escrever a sinfonia, pois aquilo que fotografamos já foi criado e está disponível para todos no mundo natural (ou no mundo criado pelo homem no caso da PVG). Mas será sempre possível apresentar a nossa interpretação.

A decisão que temos de tomar, antes de premir o botão, é se queremos ser lembrados por ela ou não…

O fotógrafo e designer Philipp Schmitt inventou uma câmara que não deixa fazer fotografias em locais demasiado fotografados. A pergunta que nos coloca é do género: “será que o mundo precisa de mais uma fotografia do Big Ben, da Torre de Pisa ou da Ópera de Sydney?”. Basicamente, através de um dispositivo que faz a geolocalização do local onde estamos, a câmara consulta um serviço que descobre se o local “merece” ou não ser fotografado. Se, por acaso, o serviço responder que há fotos demais disponíveis, o botão de disparo encrava e temos de procurar novas paragens.

Ou muito me engano, ou não me parece que esta câmara vá ter muito sucesso. Mas as questões que levanta, como já mostrei atrás, podem ser bastante interessantes.

E vocês, o que pensam? Sentem que vale a pena fazer mais uma fotografia da PVG ao nascer do sol? Sim? Não? Porquê? Espero pelas vossas respostas na secção de comentários deste artigo. Até já!

14 Comentários

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    Cristiano Justino Novembro 27, 2015 at 8:05 pm

    Luís, esta questão é, de facto, um bom tema de debate.
    Como muita coisa em fotografia, também esta questão tem muito de subjectivo. Se é verdade que não me de dá ‘pica’ ir fotografar locais que sei serem muito fotografados, também há momentos em que penso poder ser uma boa experiência.
    Isto é, ir não pela fotografia mas pela vivência. E aí acho que temos sempre a ganhar. Se depois não aproveito nenhuma foto, também é muito provável que aconteça.

    A analogia que fazes com Beethoven é muito bem vista, assim como os exemplos da PVG ou dos pescadores chineses.
    O “destaque” que possamos ter deverá ser inversamente proporcional à quantidade de fotos existentes desse mesmo local, sendo uma boa foto.
    Locais que tenham sido muito pouco fotografados, apesar de escassos, devem ser os mais apetecíveis para quem procura apresentar boas fotos diferentes do “main stream”.

    Pessoalmente, tenho fotografado mais pela vivência que pelo resultado, dado o pouco tempo despendido ultimamente para realizar boas fotos.

    Abraço!

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    ola Luis,

    Excelente artigo em primeiro lugar!

    Em segundo, vou tentar dar-te a minha opinião, não me sentindo eu um fotografo, longe disso, gosto essencialmente muito de fotografia e do processo de as fazer. Confesso que não sou muito cuidadoso no workflow desse processo, talvez por preguiça, talvez por falta de tempo, talvez porque não tenha nascido para a coisa, talvez tudo isso junto e mais alguma coisa.
    Mas uma coisa é certa, a satisfação com que fico depois de passar por tudo isso, não tem com explicar. Muito aprendi contigo e muito tenho aprendido acompanhando como voyeur o teu e o trabalho de algumas que nos são proximas, mas sinto que será sempre dificil ter o amor que vocês tem pela fotografia.
    Mas enfim, voltando ao que interessa, sentir que devo voltar ao mesmo lugar acho que se torna um vicio, eu vejo sempre como um treinamento, sinto sempre que cada vez que repito um lugar consigo melhorar e isso me faz sentir bem comigo.
    As fotos na sua maioria vão para o lixo, talvez a tentativa de fazer uma foto original de um lugar mil vezes fotografado me faça procurar angulos e perspectivas diferentes e sem sentido estetico, mas o esforço mental e fisico da procura desse tal angulo nunca antes visto me faz sentir muito bem, lá isso faz.
    Abraço

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      Obrigado pelas tuas palavras Paulo! Tu falas de outro ponto deveras interessante que é o de voltar ao mesmo lugar diversas vezes. Não é disso que eu falo aqui, pois a minha questão prende-se com o fotografar uma primeira vez num local que já foi fotografado por outros até à exaustão. Tu voltares ao mesmo local, para fazeres a mesma ou outras fotografias, tentando evoluir ou apresentando uma nova perspectiva é, na minha opinião, muito interessante e muito enriquecedor.

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    Caro amigo Luis,

    Tal como tu também tenho uma lista de lugares a fotografar, que vai crescendo e como dizes uns vão-se esvanecendo no tempo, não pela saturação de fotografias do local, mas simplesmente porque a minha exigencia também vai crescendo e eventualmente aquilo que eu gostaria de fotografar à um ano atrás não é propriamente o mesmo que quero hoje ou vou querer amanha.
    A Islandia e a Patagónia ou mesmo o rio Li são lugares de eleição para todos aqueles que amam a fotografia..e um dia espero os fazer todos. A Islandia já lá fui e voltarei em 2016, com um conhecimento mais profundo do pais e dos locais e assim melhor preparado..e vou lá voltar porque amo a fotografia e mais ainda adoro o momento da preparação e do registo. È esse sentimento que me faz fotografar e viajar pela fotografia, e Luis enquanto assim for irei fotografar todas as PVG desse mundo fora, independentemente de quem as fotografou e até melhor do que eu…
    Simplesmente Luis, porque aquilo que me dá gozo não é ver as fotografias de todos os outros colegas, aquilo que me dá imenso gozo é FAZER FOTOGRAFIA…

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    Haverá certamente várias explicações para as questões que levantas, eu próprio já me perguntei o mesmo. Possíveis razões:
    1) querer mostrar a si próprio que também se é capaz;
    2) querer fotografar determinado lugar que se acha fantástico e poder dizer que é obra sua (ainda que não muito original …);
    3) no caso do 500px, como dizes, é quase uma receita para sucesso;
    4) pode-se sempre achar que se faz melhor;
    5) é muito difícil ser-se original hoje em dia …

    Mas é sem dúvida uma reflexão interessante e que já me levou a não fazer algumas fotos. Um exemplo é a lagoa das sete cidades nos Açores. Vi tantos postais daquele lugar (miradouro do Rei) que quando lá cheguei fiquei sem vontade de fotografar.

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    Por vezes fico demasiado ansioso e entusiasmado por fotografar um determinado lugar, apenas porque vi uma foto desse mesmo lugar que me deixou fascinado e desejoso de poder copiar esse mesmo momento que foi já registado por um outro fotógrafo. É verdade isso por vezes também me toca e acabo por me deixar ir na corrente! Tenho que admitir que é forma mais fácil e preguiçosa de registar um momento em fotografia, dificil é inovar e criar uma prespectiva nova desse local já deveras fotografado. Acredito no caso da PVG que ainda é possível registá-la em fotografia de formas ainda não exploradas, é no entanto uma tarefa muito díficil e que obrigará o fotografo a um esforço e imaginação e até mesmo de experimentação muito grandes. Em suma concordo com o teu artigo, um local por mais bonito que seja quanto mais fotografado que seja vai perdendo o seu encanto para o fotógrafo mas ta mbém proporcionará um enorme desafio a este para fazer ainda algo único que marque a diferença para as inumeras fotos iguais do mesmo local, como uma assinatura do próprio fotógrafo.

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    Eu já fiz fotografias “repetidas”. Mas às vezes quando penso nisso, acho que até pode fazer todo sentido. Quando fotografo sinto varios tipos de emoções e prazeres. Um é o prazer de achar que consegui fazer uma fotografia que me orgulhe, “repetida” ou não. Outro prazer é partilhar uma fotografia e ver que essa fotografia pode ser apreciada por outras pessoas ( uii muito poderíamos falar sobre isto…) Mas para mim há pelo menos um outro prazer que nada tem a ver com a originalidade e tudo a ver que com o prazer do “ir”…o não ter ficado em casa…o acordar às 5 da manhã, o viajar muitos km, o apanhar um frio gélido, o decidir como fazer a fotografia…o ter convivido com amigos nessa saida. Essa é a razão que eu acho que ser original é apenas uma maneira de sentirmos prazer com a nossa fotografia e em muitos casos nem é essencial. Até podemos cair no que para alguns, seja considerado uma facilidade, ou seja replicar algum lugar muito bonito e muito fotografado, mas mesmo assim isso ser compativel com o nosso prazer, pk na nossa fotografia adicionamos o nosso prazer do “ir”.

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      Sim, o prazer de “ir” é, certamente, uma das razões pelas quais gostamos de fotografar lugares icónicos. Isto porque, muitos de nós, viaja para poder fotografar e fotografa para poder viajar. E é na simbiose deste par viagem/fotografia que nascem experiências únicas e fantásticas.

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    A minha opinião é que se faz ou não sentido fotografar uma imagem já tão batida é uma questão inteiramente pessoal e que estará sempre relacionada com o que impele o fotografo a fotografar. Há quem rejubile com a dinâmica que se cria por se sair em grupo e dar o seu melhor e o resultado é secundário; há quem faça da fotografia uma forma de comunicação e o que lhe interessa é mostrar ao mundo como o vê ou como gostaria de ver; há quem necessite passar pela experiência de também saber fazer aquele registo ou aquele efeito porque a fotografia tem de ser um constante desafio entre tantas outras razões que justificam a escolha de um local, de um angulo, de uma imagem… O que pretendemos da vida é tão diverso que se torna redundante responder a esta questão. O que faz sentido para mim é que se vá tomando consciência do que se pretende e que nos dediquemos ao que ressoa em nós, seja a Ponte Vasco da Gama, a Torre Eifel, o crescimento de uma planta, o retrato de bébés embrulhados em tufos de algodão, mantas e laçarotes, os refugiados da Siria, as baleias nos Açores ou a atrocidade que é a mutilação genital feminina.. Nunca fotografei a PVG mas sou fascinada pela 25 de Abril e por isso para mim faz sentido fotografá-la e como parte da minha satisfação também passa por conseguir chegar ao público, quando me sentir orgulhosa de uma imagem vou naturalmente querer mostrá-la. É pura vaidade e a vaidade pouco tem a ver com a arte.

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    Olá Luís, tocaste num tema que que me diz bastante já olhei para este tema de duas formas diferentes. Felizmente quando comecei a brincar à fotografia não havia o “Boom” que há hoje desta arte, e nesse aspecto cheguei a ir uma ou outra vez fotografar a PVG e estava sempre sozinho. Nos dias de hoje é impossível sempre que lá se vai, há sempre pelo menos mais uma pessoa.

    É engraçado teres um documento com nomes de locais, pois eu partilho da mesma experiência tenho mas eu tenho um mapa do google em que vou adicionando locais e chamei “wishlist”, sempre que vejo um lugar que nunca tinha visto e me desperta interesse, faço um marco.
    Indo outra vez ao assunto da PVG, há uns 7 ou 8 anos atrás, senti que já tinha fotografado a PVG que chegasse, e resolvi que não iria lá mais, já não havia mais nada a fazer, andei a fazer outras coisas, no entanto vou comparar isto a outra coisa de que gosto bastante, que é comer. Apesar de já saber qual o sabor de um pastel de nata, e mesmo já tendo comido vezes sem conta, o certo é que de vez em quando me apetece comer outro, e parecendo que não há tantos outros bolos, novos e diferentes, que podia experimentar mas lá vou para o pastel de nata novamente. Isto porque quando vou fotografar e falo por mim, vou desanuviar a cabeça, e aproveitar o momento. Quanto à PVG mais propriamente dita há vários factores que fizeram a voltar lá e continuar a lá ir:
    • tenho casa virada para o Tejo e vista para parte da PVG
    • fica a 15m de casa
    • gasto muito menos €€ em combustível
    • os enquadramentos já estão feitos
    basta ir e focar-me somente na luz, que que tanto me dá prazer, se morasse em Sintra, se calhar não era a PVG que tinha ao NDS, mas sim a Ursa ou a Adraga ao PDS e isto é o que me leva a ir lá mais que uma vez,

    Agora há aqui outro aspecto, eu faço fotografia para mim, claro que gosto de partilhar uma coisa ou outra, mas quando fotografo sinto-me bem, gosto de estar a saborear os momentos mágicos que a luz me faz sentir, de todo não publico tudo o que fotografo e apesar da minha família dizer que faço sempre a PVG não partilho de todo todas as idas lá. mas sei que há gente que quase que o importante é fazer fotografia para partilhar e para ter likes e gostos. Eu pouco me importo se tenho vários locais várias vezes fotografados o que importa é que sempre que vou novamente a um sitio não venho a pensar que já tinha feito igual.

    Para finalizar todo este voltar ao mesmo sitio, não implica ir a sítios diferente e fazer coisas diferentes, mas o que eu gosto é de fotografar seja onde for!

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    Bem como posso colocar o que sinto sem ferir egos (coisa impossível de fazer pois é provavelmente das componentes humanas, a mais difícil de se gerir). Julgo que o que nos leva a tal é algo chamado preguiça mental. Sim preguiça, não nos propomos a ser criativos e ir ao encontro de algo novo, refugiamos na velha desculpa do “mas é disto que eu gosto”, quando lá no fundo ficamos ruídos quando visualizamos algo de novo. Vivemos preocupados com a quantidade de likes (ou lá que medida de qualidade é essa), e não na criatividade e cuidado estético. O novo, o diferente, o criativo muitas vezes nem está muito longe geograficamente, mas como somos preguiçosos mentalmente e não lemos livros, revistas, não vamos a exposições (mesmo que não seja o nosso “estilo”), acabamos ao fim do dia por pregar o culto da nulidade. Luis, tu tens a PVG e eu tenho a “porcaria” dos moinhos de alburrica. Digo “porcaria” em desespero de causa, estão tão banalizados e retratados com tamanho mal gosto (nada tem a ver com o meu gosto), que no fundo julgo que, se eles tivessem pernas já tinha fugido. Como sabes gosto de paisagem natural e bichos, de preferencia em locais tidos como “mete nojo”, contudo acabo a maior parte do tempo a ver fotografias e ler sobre autores com estilos completamente diferentes, conclusão, sou completamente maluco só pode.

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    Maria Duarte Ferreira Novembro 29, 2015 at 11:13 pm

    Olá Luís. Interessante este tema para discussão. Pessoalmente e não querendo repetir os comentários já expostos, apenas posso referir a minha experiência. Quando comecei a fotografar, tinha muito o hábito de “copiar” o que os outros fotógrafos (que respeitava) faziam para ver se conseguia fazer igual e também por comodidade, falta de experiência e maturidade. Hoje em dia tento fugir dos lugares comuns. Por força de ver tantas e tantas imagens, muitas vezes semelhantes, comecei a ficar mais selectiva na apreciação e na concepção. Gosto de fotografias, que contem uma história, que exprimam um sentimento, que sejam originais e não apenas uma foto bonita de um local bonito, mas muito visto e fotografado. Se queremos evoluir nesta arte, temos de sair da nossa zona de conforto, ser criativos, pesquisar. Não é tarefa fácil, por vezes é mesmo muito frustrante, mas quando conseguimos “aquela foto”, sentimos que valeu a pena!
    Um abraço

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    Compreendo e entendo tudo o que dizes no teu texto e eu próprio me revejo em alguns dos pontos que tocas, no entanto, aqui vai a minha opinião.
    Eu acredito na perfeição fotográfica e por muito que eu considere, e aqui refiro-me à paisagem natural que é o meu tema fotográfico preferido, que alguns dos locais, como a Ponte Vasco da Gama, estão tão fotografados e com um nível de qualidade tão elevada, que ás vezes me dá vontade de lá ir e tentar fazer melhor. O que é tentar fazer melhor do que aquilo que eu já vi: é muitas vezes estar no local certo na hora certa e esperar que algo realmente incrível e raro aconteça e que seja A FOTO da ponte Vasco da Gama. E dou-te um exemplo em que estavas presente: Covão da Ametade, Novembro de 2013.
    Lá estávamos nós para mais um workshop de Outono, no Covão da Ametade, onde é dificil melhorar o que ali já foi feito, seja com as cores de Outono, seja com neve, com chuva, com vento, etc.
    No entanto, e nesse fim de semana, algo insólito aconteceu: um forte nevão fora de época fez com que as lindas cores de Outono se misturassem com o branco da neve, proporcionado fotos quase únicas e dificeis de repetir. Deixo-te a seguinte questão: e se tivesse achado que não valia a pena ir ao local porque de lá já vi mais de 1000 fotos, todas diferentes e todas igualmente belas?
    Eu acho que se pode melhorar sempre, fotograficamente falando, ainda que nem sempre exista motivação para tal, após anos e anos a visitar o mesmo local.
    E para finalizar: eu gosto mesmo é de fotografar, e se eu tiver de ir visitar a Islândia, ou a Patagónia, ou a Serra da Estrela, eu não me importo de ir fotografar o que já foi deveras fotografado, por um motivo muito simples: aquela adrenalina de montar o tripé, enquadrar e disparar, ninguém me a tira, mesmo sabendo que a foto que fiz é igual a tantas outras que andam por ai…sobretudo na net.

    P.S. – Voltámos a ser amigos? 😉

    Kisses

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    […] ao router da Manfrotto… se eu não tenho isto como é que consigo fazer uma fotografia (ou um cromo dos repetidos) como deve de ser da Ponte Vasco da Gama ao nascer do […]

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